Há tempos eu não usava relógio; o celular sempre quebrou esse galho pra mim. O problema é quando o aparelhinho fica sem bateria, o que acontece muito facilmente.
Então, depois de dez anos sem usar um relógio de pulso, decidi comprar um. Fui até a Meca dos relógios falsificados, a região da rua 25 de março, em Sampa.
Entrei em alguns estabelecimentos que provavelmente funcionam sem alvará da prefeitura. Entrei em um mercado de pulgas sino-brasileiro, e me senti um estranho. Se não fosse pelos meus companheiros de olhos não-puxados, eu poderia dizer que estava no oriente.
É incrível a variedade de produtos. Roupas, calçados, eletrônicos, cosméticos, e relógios. Aos montes.
Parei em frente a um estande e fiquei observando os modelos. O atendente – chinês – me olhou meio desconfiado, já que eu não pronunciei nenhuma palavra. Pra quebrar o gelo, perguntei:
- Moço, quanto tá esse?
Ele balbuciou algumas palavras, e eu fingi que entendi. O sotaque era terrivelmente carregado, e eu resolvi não insistir na conversa, sabendo que se eu resolvesse perguntar as características do produto, fatalmente eu riria do jeito de falar do nosso amigo Ling Ling.
Gosto dos chineses, mas é realmente difícil de entender o que eles dizem.
Procurei então uma lojinha em que algum brasileiro trabalhasse, e encontrei - para meu alívio. Parecia que eu havia voltado de uma longa viagem da China, e até jetlag eu pareci sentir.
É engraçado...as lojas vendem os mesmos modelos de relógios, provavelmente provenientes do mesmo contrabandista.
Me encantei por um relógio analógico. Pulseira de metal, mostrador sóbrio, bem bonita a muamba. Fiz a pergunta mais imbecil possível:
- É à prova d'água, moça?
- Só até dez metros, senhor.
Como assim só até dez metros?
Resolvi levar assim mesmo. Se eu fosse entrar em alguma piscina ela com certeza não seria tão funda, e na praia eu só fico no rasinho.
Antes mesmo de sair da loja eu coloquei o relógio no pulso. Acertei a hora e fui pra casa feliz com meu novo gadget. Sim...hoje em dia tudo é gadget.
Cheguei em casa suando em bicas. Verão brasileiro...sabe como é, né?
Fui até o banheiro, liguei o chuveiro, tirei a roupa e entrei debaixo da ducha gelada.
Algumas horas após o banho, olhei para o relógio, com a clara finalidade de saber as horas. Parado. Dei algumas batidinhas no pulso, mas o maldito não funcionava.
Eu moro no décimo quarto andar, a muito mais de dez metros do chão. Talvez por isso o relógio tenha parado de funcionar.
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