terça-feira, 4 de junho de 2013

k a f k i a n a t e r c e i r a

aviltadas as penas já não era pequeno o pobre pombopássaro; tampouco era grande... tentava nem ser. gritos se transformavam em sussurros, e safanões em delicados arranhões, que marcas não deixavam.
na janela, o prato vazio que outrora comportara quarenta e sete grãos de alpiste seco para alimentar tão vã alma do pombopássaro, que tentara em vão voar.

- Se eu disser que vai ficar confuso é bem possível que fique. Não esmorecer, não esmorecer, não esmorecer  - pensou ele, dando ênfase na ordem.

dizimou os pensamentos, abriu suas peroladas asas (na verdade suas asas eram bem feias, mas gostava de vê-las peroladas, mesmo ciente da feiura) e tentou alçar vôo, do qual desistiu a quarenta e nove centímetros do chão. deixou-se cair como pálida folha rôta, e adormeceu onde havia caído; não por não conseguir se mover, mas simplesmente porque poderia adormecer onde bem quisesse.

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