terça-feira, 3 de novembro de 2009

Aristides e as Caçapas

Aristides era um sujeito pacato, cumpridor de seus deveres, mas tinha um vício: a sinuca.
Todos os dias, depois do trabalho em um escritório apertado e abafado, ia ao boteco jogar. Bebia pouco, somente quando estava muito calor, ou nas sextas. Gostava de jogar apostando.
No começo, ainda quando era garoto, jogava de brincadeira, pra passar o tempo. O tio de Aristides era fera na sinuca, conhecia todos os macetes e estratégias do jogo, e foi com o Tio Barcelos que Aristides se encantou pelas caçapas.
Já adolescente, incentivado pelo Tio Barcelos, participou de um torneio. Ficou em segundo lugar, mas foi como se tivesse sido o campeão.
Em casa, Aristides guardava um conjunto de tacos feito com uma madeira especial, que deslizava fácil pela mão. Comprou em uma viagem à Argentina, por uma bagatela. Os tacos eram o xodó de Aristides, e ele só os usava em mesas especiais, extremamente planas e felpudas, como as do clube dos sinuqueiros. Por sinal, foi lá no clube que Aristides conheceu aquela que seria sua esposa, e que quebraria o conjunto de tacos na cabeça de Aristides, quando este havia chegado às três da madrugada, bêbado e com uma puta mais bêbada ainda a tiracolo. Ele havia dito que era uma amiga, mas a desculpa não colou.
Quando Aristides soube que a esposa havia quebrado os tacos em sua cabeça, pediu o divórcio. Ele não conseguiria viver ao lado de uma mulher sabendo que ela havia destruído aquilo que ele mais gostava.
Após o divórcio ele mudou-se para uma casa maior. Comprou uma mesa de sinuca, e todos os finais de semana reunia os amigos para umas partidinhas de sinuca.
Aristides nunca mais se casou. Dedicou todos os seus últimos anos à sinuca.

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